O que mudou na Arcelor Mittal

O que mudou na Arcelor Mittal

Na ArcelorMittal, líder no Brasil na produção de aço, o CVC intensifica um trabalho de relacionamento com o ecossistema de inovação aberta iniciado há mais de quatro anos. A empresa sempre investiu em inovação – não à toa, tem mais de 10 centros de pesquisa e desenvolvimento espalhados pelo mundo

para desenvolver produtos e processos mais eficientes voltados a gerar valor para os clientes e assegurar o crescimento futuro. No entanto, até alguns anos atrás a maior parte dos investimentos estavam relacionados à inovação fechada.
“Embora ainda seja muito relevante inovar dentro de casa e com nossos recursos próprios, começamos a observar que também existe um mundo a ser explorado fora das fronteiras da empresa”, afirma Rodrigo Carazolli, Gerente Geral de Inovação, Novos Negócios e Açolab Ventures. A empresa começou, então, a apostar em inovação aberta, colaborando com o ecossistema de fora para cocriar soluções e viabilizar projetos de alto valor agregado.

Assim nasceu, em 2018, o Açolab, laboratório de inovação aberta da ArcelorMittal que atua para gerar oportunidades de parcerias, conexões e negócios. Considerado o primeiro hub de inovação aberta da indústria do aço no mundo, o Açolab realiza codesenvolvimento de Provas de Conceito (PoCs) e Mínimo Produto Viável (MVPs), selecionando startups por meio de desafios abertos ou Pitch Day. Utilizando metodologias ágeis, a unidade testa e valida novas abordagens, comprovando ganhos potenciais e apoiando a implementação das soluções aprovadas.

“O papel foi justamente abrir a empresa e colaborar com startups, universidades e centros de pesquisa externos”, explica Carazolli. “Seguimos com essa estratégia até meados do ano passado, mas depois percebemos que embora os projetos gerassem muito valor, existiam outras oportunidades que não estávamos capturando”, completa. Segundo o executivo, a ArcelorMittal começou a perceber a importância de criar um relacionamento mais aprofundado do que simplesmente uma colaboração para desenvolver algo a ser aplicado na empresa. “Algum tipo de parceria mais estratégica que nos permitisse alavancar ainda mais o resultado da empresa e das startups com a nossa expertise”, pontua.

A abordagem de inovação aberta da ArcelorMittal é baseada nos Três Horizontes de Inovação, estratégia elaborada pela consultoria norte-americana McKinsey. O Horizonte 1 é o core business, aprimorando o que já funciona na empresa e investindo em inovação incremental para o negócio principal. O Horizonte 2: criar novas ideias e negócios a partir da expertise já existente para atingir novos mercados adjacentes. Horizonte 3: o foco é a experimentação para desenvolver negócios genuinamente novos, com tecnologias e pensamento disruptivo.

“Nos últimos quatro anos focamos muito no horizonte 1. Quando criamos o fundo de corporate venture capital, trouxemos outras estratégias para melhorar o nosso portfólio e acrescentar mais os horizontes 2 e 3”, analisa Carazolli. Gerido pela Valetec, o Açolab Ventures foi lançado em 2021 com a proposta de investir mais de R$ 100 milhões em startups e pequenas empresas inovadoras, com possibilidade de coinvestimento com outros fundos de CVC, venture capital ou investidores-anjo.

Desde então, o fundo já realizou quatro investimentos. O primeiro deles foi na Agilean, plataforma de planejamento e gestão da construção civil. Depois, veio a Sirros IoT, startup gaúcha especializada em Internet das Coisas voltada para a Indústria 4.0. De acordo com Carazolli, outros dois aportes já foram realizados e devem ser divulgados em breve.

Os investimentos são focados em empresas que tenham soluções relacionadas à construção civil, experiência do cliente, matérias-primas, canais de venda, logística, produtividade, redução de custo, produtos alternativos ao aço e eficiência ambiental. Com tickets entre R$ 1 milhão e R$ 15 milhões, o CVC aporta em startups que já estão faturando e estão localizadas na América Latina, com um olhar especial para o Brasil. Em relação ao que já vem mudando na ArcelorMittal desde a implementação e os investimentos realizados, Carazolli destaca o olhar para o smart money. “A cultura já existia na empresa. Como tínhamos o laboratório de inovação, já sabíamos trabalhar com startups e gerar valor em conjunto, mas tivemos que agregar o conceito de smart money”, conta o executivo. A ArcelorMittal passou a estudar como aportar conhecimento nas investidas, ajudando-as com oportunidades de negócio e estruturação dos processos internos.

Hoje, a companhia oferece um leque amplo de soluções como expertise de negócio, know-how, mentorias, apoio de governança e acesso à infraestrutura ArcelorMittal. Antes de fazer qualquer investimento, a empresa monta um plano de sinergias e captura de valor com as startups. “Projetamos o que estamos buscando para as empresas e para nós. Mas essa maturidade é algo que tivemos que adquirir com o tempo”, afirma Carazolli. Como cada startup é única, não há um pacote padrão dos serviços de smart money oferecidos. A proposta é pensar as soluções a partir das dores e dificuldades de cada investida, por exemplo, gestão de equipes, estruturação da área comercial, networking e ganho de credibilidade. “Antes de assinar o contrato, fazemos um diagnóstico de quais são as alavancas de crescimento da empresa e como podemos apoiá-las – e o smart money vem justamente para isso”, completa.

A gigante produtora de aços também estruturou uma rede de executivos que discutem os investimentos. São pessoas do alto escalão – normalmente diretores e gerentes gerais – responsáveis por diversas áreas da ArcelorMittal que se reúnem para avaliar o potencial do negócio e do fit estratégico que um possível investimento pode representar. “Isso nos ajuda a fazer com que a parceria dê certo e que tenhamos uma visão mais clara de geração de valor. Eles participam da criação do plano de sinergia, desenvolvimento e da captura de valor após o aporte, o que nos permite ter uma visão mais sólida e robusta, além de aumentar o engajamento e as chances de sucesso”, pontua Carazolli.

Desde o lançamento do Açolab Ventures, o fundo já avaliou quase 700 empresas. “Com o apoio da Valetec, estruturamos processos robustos e, com isso, conseguimos rodar tudo rapidamente, tanto na fase de identificação de potenciais investidas quanto de análise dos valores, sinergia, estrutura de governança e da concretização da captura de valor”, analisa o executivo.

De forma mais ampla, considerando as outras iniciativas de inovação e relacionamento com startups (incluindo as PoCs, MPVs, colaborações e aportes), Carazolli cita outros ensinamentos. “Temos aprendido a ser muito mais abertos, entender que apesar de termos pessoas que fazem projetos incríveis na empresa, também há oportunidades fora. E que quando juntamos essas forças, ficamos melhores do que individualmente.”

De um lado, a ArcelorMittal tem os recursos e os processos bem estruturados. Do outro, as startups trazem mais velocidade, simplicidade e flexibilidade para se adaptar às mudanças.

“Trouxemos para dentro da empresa as metodologias ágeis, que é algo excepcional, assim como o conceito de MVP. Hoje é algo padrão na hora de pensar em projetos. As áreas estão mais con-
fortáveis em falar sobre seus problemas e oportunidades, inclusive para buscar ajuda. A falha passou a ser compreendida como um processo de aprendizagem. Tudo isso são ensinamentos que adquirimos com as startups, aperfeiçoando o que fazemos sem jogar fora tudo o que já conquistamos”, conclui Carazolli.