O que levou a Ânima a criar e implementar um fundo de CVC
Com quase 20 anos de história como uma das mais relevantes organizações educacionais do Brasil, a Ânima Educação tem estruturado diversas estratégias para se aproximar do ecossistema de startups. Em maio de 2022, a companhia anunciou seu fundo de corporate venture capital, o Ânima Ventures, que prevê aportar R$ 150 milhões ao longo dos próximos 10 anos com investimentos seed e séries A.
Sob gestão de Reynaldo Gama, CEO da plataforma de educação corporativa HSM e da SingularityU Brazil, o veículo reforça um trabalho de quase três anos visando levar mais inovação para dentro do seu ecossistema. “Testamos muitas coisas até chegar no Ânima Ventures. Fomos dialogando [com o mercado] para entender [seu funcionamento e suas necessidades]. Foi um processo de aprendizado, com uma série de iniciativas construídas ao longo dos anos”, afirma Gama.
Segundo o executivo, as movimentações começaram com ações de inovação aberta até lançar, em novembro de 2020, o Learning Village, hub de inovação e tecnologia focado no setor de educação. Os mais de 3.500 m2 na região da Vila Madalena, em São Paulo, reúnem 54 startups e 18 empresas parceiras como Beneficência Portuguesa (BP), Deloitte, Vivo e BR Angels. “O Learning Village foi um passo inicial para tangibilizar as iniciativas de inovação e reforçar o relacionamento com o ecossistema de startups. Além de aproximação e fomento, funciona como um ótimo deal flow”, pontua Gama.
No mesmo período, começaram também os aportes e as aquisições. Primeiro com a MedRoom, startup de realidade virtual para educação médica, e depois da Gama Academy, plataforma de cursos de tecnologia, por quase R$ 34 milhões. Foi quando a Ânima teve o insight de consolidar uma estratégia de investimentos mais robusta. “Mas antes disso, investimentos em um fundo de venture capital puro para aprendermos, trocarmos conhecimento e ter a interligação”, pontua Gama.
É o caso da Alexia Ventures, gestora capitaneada por Wolff Klabin e Patrick Arippol, focada em investimentos série A.
“Com todas essas iniciativas, já estávamos atuando no mercado e achamos importante ter um projeto de CVC para de fato criar um instrumento de investimento”, diz o executivo. Para
ele, o motivo para lançar o Ânima Ventures está diretamente relacionado com a importância do veículo para a companhia: acelerar a inovação, trazer novos modelos de negócio e empreendedores que queiram fazer parte do ecossistema Ânima.
A tese e tamanho do fundo foi aprovada pela empresa no fim de 2021. Nos primeiros três meses de 2022 a companhia estudou modelos de venture capital em todo o mundo para decidir qual seria a melhor alternativa para o Ânima Ventures – montar uma estrutura própria ou terceirizar. A decisão foi trazer a Valetec como gestora responsável pelo fundo, que foi estruturado como um Fundo de Investimento em Participações (FIP).
O Ânima Ventures
O fundo da Ânima tem R$ 150 milhões para fazer aportes early-stage, com foco em startups pré-série A, embora haja a intenção de fazer alguns follow-on em estágios mais avançados, segundo Gama. “Temos uma tese bem ampla, olhando para empresas que estejam no core business ou não”, afirma o executivo. Ele cita empresas de saúde que podem fazer sentido para a Inspirali, sua vertical de educação médica, ou então startups de agro que apoiem áreas de ciências agrônomas. “Negócios que ajudem a melhorar a experiência e gerar mais acesso”, acrescenta.
É claro que o capital financeiro é importante para as startups escalarem seus negócios. Mas Gama enxerga um valor ainda mais significativo no smart money. O executivo explica que o CVC olha investimentos estratégicos, ou seja, empresas com potencial de serem alavancadas e realmente inseridas no ecossistema. “O valor do Ânima Ventures é de fato fazer isso respirar, acelerar e trazer novos modelos para pensarmos na nossa evolução”, afirma.
O veículo já fez o primeiro aporte, embora não tenha anunciado o nome da investida, e já está olhando para novas oportunidades. “O desafio agora é fazer a curadoria. Temos um pipeline com mais de 300 startups e precisamos analisar onde investir, por quais motivos, qual é o valuation e os timings corretos para criar um portfólio que tenha retorno financeiro, mas principalmente um olhar estratégico para o ecossistema Ânima, impulsionando e levando mais velocidade para o negócio”, avalia Gama.
Como benefícios para as investidas, o executivo destaca o potencial de testar as soluções e ganhar escala, uma vez que a Ânima tem quase 400 mil alunos. Há também oportunidades de relacionamento B2B, considerando que a HSM sozinha atende mais de mil empresas. Além disso, a Ânima está aberta para possíveis sinergias de estruturas e áreas compartilhadas como financeiro, recursos humanos, entre outros.
O mercado atual vive um cenário de altas taxas de juros. No entanto, Gama enxerga grandes oportunidades de ter lançado do Ânima Ventures nesse cenário. “O melhor momento de se investir é agora, porque os valuations e os empreendedores estão muito mais pé no chão”, afirma. Com maior aversão ao risco por parte dos investidores e dos fundos de venture capital, Gama ressalta que o CVC pode ser uma boa alternativa para as startups que precisam captar para acelerar os negócios. “A hora de entrar é sempre na baixa, e estamos aproveitando a oportunidade do mercado querer muito mais investidores estratégicos que ajudem não só com o dinheiro.”
O executivo já vê mudanças na empresa desde a implementação do fundo, principalmente em relação ao aprendizado da dinâmica. “Saber como se olha o valuation, cria o dealflow, faz análises técnicas, entre outros. Passamos a entender tudo de forma muito mais estruturada, até por causa do gestor terceiro que nos ajuda a aprender e ganhar velocidade. Isso acelerou muito o nosso processo”, diz Gama.
Ele ressalta que apesar dos benefícios para a Ânima e as investidas, o Ânima Ventures não precisa ser visto como competição para os outros players do mercado. “Nunca vamos competir com os grandes fundos, porque esse não é o core business da Ânima. Temos como DNA o empreendedor e muito M&A. A importância do corporate venture capital está na escala, governança, fomento do ecossistema e criação de valor para as companhias”, conclui Gama.