Dexco e ArcelorMittal: O que vem mudando ou mudou depois da implementação e investimentos realizados pelo CVC já criado
Referência nacional no setor de materiais de construção e decoração, a Dexco, anteriormente Duratex, anunciou a criação do seu corporate venture capital em junho de 2021. Batizado de DX Ventures, o veículo faz parte de sua estratégia de aproximação com o ecossistema empreendedor e prevê aportar recursos em startups e scale-ups que tenham sinergia estratégia com os negócios do grupo, dono das marcas Deca, Portinari, Hydra, Duratex, Castelatto, Ceusa e Durafloor.
“Vimos que o ecossistema empreendedor estava crescendo de forma acelerada, com muitas construtechs e proptechs surgindo”, afirma Renato Damaso Maruichi, Gerente Executivo de Planejamento Estratégico, Desenvolvimento dos Negócios, Inovação e Corporate Venture Capital na Dexco. “Essas empresas já nascem muito bem posicionadas para abordar as novas tendências do mercado e são capazes de gerar muito conhecimento”, completa.
O lançamento do CVC marca um momento importante para a Dexco, de mudança e modernização frente aos seus 71 anos de história. A empresa traçou novas estratégias corporativas com o intuito de tornar-se cada vez mais digital, aberta, dinâmica e integrada, aproximando-se cada vez mais do consumidor e melhorando a experiência de construção e reforma. O DX Ventures nasce justamente como uma das estratégias de crescimento para gerar o máximo de valor do ecossistema.
"Percebemos que precisamos engajar as pessoas a cada vez mais pensar o futuro e que lidar com o diferente soma. Há uma série de ensinamentos tangíveis e intangíveis que podem ser atribuídos ao nosso CVC."
Renato Damaso Maruichi, Gerente Executivo de Planejamento Estratégico, Desenvolvimento dos Negócios, Inovação e Corporate Venture Capital na Dexco.
Com o auxílio da Valetec, o fundo já injetou R$ 30 milhões na Urbem, startup que produz vigas, pilares e lajes de madeira engenheirada, e R$ 15 milhões na Noah, que utiliza madeira engenheirada na construção de empreendimentos imobiliários. Também investiu R$ 74 milhões na catarinense Brasil ao Cubo, especializada em construção modular off-site em estrutura metálica, e cerca de R$ 100 milhões na ABC da Construção, rede especializada em acabamentos para construção.
Segundo Maruichi, a Dexco já começou a colher os frutos do fundo de corporate venture. “A primeira questão é cultural. Conseguimos materializar, explicar e mostrar para os nossos colaboradores qual é o poder da inovação e o valor que ela traz para a empresa. Personifica qual é o poder da inovação corporativa e tem uma pegada importante de atração e retenção de talentos”, diz o executivo. Ele descreve o DX Ventures como um laboratório de novos modelos de negócio, com o qual a companhia consegue testar soluções e errar de forma rápida e pequena. “Isso é fundamental para a empresa que quer inovar. O CVC mitiga o risco de crescer, porque conseguimos testar e errar controladamente”, pontua.
Outro benefício tem sido a possibilidade de alavancar o core business. “Estamos construindo o nosso futuro junto com o CVC, investindo em startups que podem se tornar novos negócios para a Dexco”, explica Maruichi. O movimento faz parte da estratégia da Dexco de se manter líder no segmento em que atua, apostando em inovação para impulsionar os negócios e destacar-se da concorrência.
Como transformações internas, ele cita a agilidade. “Aprende- mos a tomar decisões muito mais rapidamente e entendemos que muitas vezes menos é mais. Às vezes, excessos de governança, burocracia e processos enrijece o resultado, e a simplificação é algo importante”, considera Maruichi. “Percebemos que precisamos engajar as pessoas a cada vez mais pensar o futuro e que lidar com o diferente soma. Há uma série de ensinamentos tangíveis e intangíveis que podem ser atribuídos ao nosso CVC”, acrescenta o executivo.
As mudanças não ficam restritas à Dexco, e impactam também as próprias investidas. Aplicando smart money, ou seja, capital intelectual e estratégico, a companhia leva conheci- mento de mercado às startups, permitindo que elas alavanquem ainda mais seus negócios. “Um exemplo é a Urbem, que temos ajudado a crescer com a nossa expertise de gestão florestal. A Brasil ao Cubo é uma construtora, e 25% das vendas da Dexco é para o canal construtoras. Então, assim como nós, ela consegue aprender e inovar ainda mais”, explica Maruichi.
Entre os objetivos do DX Ventures, o executivo destaca a im- portância de abordar as dores dos clientes da Dexco, encontrarsoluções e agregar serviços aos produtos para potencializar as vendas. Além disso, há uma estratégia de capabilities (oucapacidades). “Algumas habilidades, principalmente digitais, conseguimos desenvolver sozinhos. Outras demorariam muito tempo e, em alguns casos, não teríamos como fazer internamente. Com o CVC podemos investir em empresas que já tenham desenvolvido essas habilidades e trazer esse conhecimento para dentro da Dexco”, pontua.
Depois de analisar as potenciais estruturas para embarcar no CVC, a Dexco decidiu estruturar o DX Ventures como um Fundo de Investimento em Participações (FIP). “Se estivermos perto demais da investida, podemos matá-la. Somos muito grandes e temos uma velocidade diferente de tomada de decisão, com uma governança parruda que pode enrijecer a startup. Ao mesmo tempo, se estivermos muito longe não conseguiremos adquirir o espírito de inovação e empreendedorismo para a nossa cultura corporativa”, avalia Maruichi. Segundo o executivo, o FIP permite que haja uma ótima distância entre a startup e o core business da corporação, não ficando nem tão perto, nem tão longe da investida.
Os aportes na Urbem e Noah seguem em linha com a tese de investimentos em alternativas para o concreto armado. “O canteiro de obra é um ambiente terrível. É insalubre, com muito tempo de trabalho, gera rejeitos e desperdícios. Além disso, o concreto é um dos principais inimigos do meio ambiente, pois emite gases de efeito estufa na atmosfera”, explica. Há também a tese de facilitar as dores do consumidor – e é aí que entra a ABC da Construção.
Maruichi diz que a companhia também está com o radar ligado para encontrar startups e scale-ups que reforcem o ecossistema de reforma e decoração da Dexco. Frente ao momento atual do mercado, com juros altos e instabilidade econômica, é natural que o fundo seja um pouco mais seletivo. No entanto, o DX Ventures segue olhando para o mercado e se encontrar empresas que façam sentido com a tese e se conectem com o fit de negócio, continuará investindo.
Antes de lançar o DX Ventures, a Dexco já tinha dado início ao seu relacionamento com startups por meio do Garagem Duratex, programa de aceleração realizado em parceria com a Endeavor. A iniciativa foi lançada em 2017, selecionando startups que tivessem soluções inovadoras para endereçar as dores dos clientes, consumidores e cadeia de valor de forma geral. Depois de duas edições, o programa evolui para duas novas ações de inovação aberta.
A primeira é o Open Dexco, que mapeia as dores do dia a dia da empresa e contrata startups e o ecossistema empreendedor para cocriar soluções e implementar POCs. Como benefícios, as empresas têm a oportunidade de testar seu produto com uma grande empresa do porte da Dexco, fazer networking, compartilhar conhecimento e acessar fornecedores, clientes e ativos da Dexco por meio de um projeto-piloto remunerado.
A outra é justamente o DX Ventures, que ao invés de contratar, investe nas startups. “Vimos que precisávamos ter um veículo estruturado e adequado dentro de uma incumbente de 70 anos para conversar com o ecossistema empreendedor”, conclui Maruichi.
O que mudou na ArcelorMittal
Na ArcelorMittal, líder no Brasil na produção de aço, o CVC intensifica um trabalho de relacionamento com o ecossistema de inovação aberta iniciado há mais de quatro anos. A empresa sempre investiu em inovação – não à toa, tem mais de 10 centros de pesquisa e desenvolvimento espalhados pelo mundo para desenvolver produtos e processos mais eficientes voltados a gerar valor para os clientes e assegurar o crescimento futuro. No entanto, até alguns anos atrás a maior parte dos investimentos estavam relacionados à inovação fechada.
“Embora ainda seja muito relevante inovar dentro de casa e com nossos recursos próprios, começamos a observar que também existe um mundo a ser explorado fora das fronteiras da empresa”, afirma Rodrigo Carazolli, Gerente Geral de Inovação, Novos Negócios e Açolab Ventures. A empresa começou, então, a apostar em inovação aberta, colaborando com o ecossistema de fora para cocriar soluções e viabilizar projetos de alto valor agregado.
Assim nasceu, em 2018, o Açolab, laboratório de inovação aberta da ArcelorMittal que atua para gerar oportunidades de parcerias, conexões e negócios. Considerado o primeiro hub de inovação aberta da indústria do aço no mundo, o Açolab realiza codesenvolvimento de Provas de Conceito (PoCs) e Mínimo Produto Viável (MVPs), selecionando startups por meio de desafios abertos ou Pitch Day. Utilizando metodologias ágeis, a unidade testa e valida novas abordagens, comprovando ganhos potenciais e apoiando a implementação das soluções aprovadas.
“Embora ainda seja muito relevante inovar dentro
de casa e com nossos recursos próprios,
começamos a observar que também existe um mundo
a ser explorado fora das fronteiras da empresa.”
Rodrigo Carazolli, Gerente Geral de Inovação,
Novos Negócios e Açolab Ventures.
Desde então, o fundo já realizou quatro investimentos. O primeiro deles foi na Agilean, plataforma de planejamento e gestão da construção civil. Depois, veio a Sirros IoT, startup gaúcha especializada em Internet das Coisas voltada para a Indústria 4.0. De acordo com Carazolli, outros dois aportes já foram realizados e devem ser divulgados em breve.
Os investimentos são focados em empresas que tenham soluções relacionadas à construção civil, experiência do cliente, matérias-primas, canais de venda, logística, produtividade, redução de custo, produtos alternativos ao aço e eficiência ambiental. Com tickets entre R$ 1 milhão e R$ 15 milhões, o CVC aporta em startups que já estão faturando e estão localizadas na América Latina, com um olhar especial para o Brasil.
Em relação ao que já vem mudando na ArcelorMittal desde a implementação e os investimentos realizados, Carazolli destaca o olhar para o smart money. “A cultura já existia na empresa. Como tínhamos o laboratório de inovação, já sabíamos trabalhar com startups e gerar valor em conjunto, mas tivemos que agregar o conceito de smart money”, conta o executivo. A ArcelorMittal passou a estudar como aportar conhecimento nas investidas, ajudando-as com oportunidades de negócio e estruturação dos processos internos.
Hoje, a companhia oferece um leque amplo de soluções como expertise de negócio, know-how, mentorias, apoio de governança e acesso à infraestrutura ArcelorMittal. Antes de fazer qualquer investimento, a empresa monta um plano de sinergias e captura de valor com as startups. “Projetamos o que estamos buscando para as empresas e para nós. Mas essa maturidade é algo que tivemos que adquirir com o tempo”, afirma Carazolli.
Como cada startup é única, não há um pacote padrão dos serviços de smart money oferecidos. A proposta é pensar as soluções a partir das dores e dificuldades de cada investida, por exemplo, gestão de equipes, estruturação da área comercial, networking e ganho de credibilidade. “Antes de assinar o contrato, fazemos um diagnóstico de quais são as alavancas de crescimento da empresa e como podemos apoiá-las – e o smart money vem justamente para isso”, completa.
A gigante produtora de aços também estruturou uma rede de executivos que discutem os investimentos. São pessoas do alto escalão – normalmente diretores e gerentes gerais – responsáveis por diversas áreas da ArcelorMittal que se reúnem para avaliar o potencial do negócio e do fit estratégico que um possível investimento pode representar. “Isso nos ajuda a fazer com que a parceria dê certo e que tenhamos uma visão mais clara de geração de valor. Eles participam da criação do plano de sinergia, desenvolvimento e da captura de valor após o aporte, o que nos permite ter uma visão mais sólida e robusta, além de aumentar o engajamento e as chances de sucesso”, pontua Carazolli.
Desde o lançamento do Açolab Ventures, o fundo já avaliou quase 700 empresas. “Com o apoio da Valetec, estruturamos processos robustos e, com isso, conseguimos rodar tudo rapidamente, tanto na fase de identificação de potenciais investidas quanto de análise dos valores, sinergia, estrutura de governança e da concretização da captura de valor”, analisa o executivo.
De forma mais ampla, considerando as outras iniciativas de inovação e relacionamento com startups (incluindo as PoCs, MPVs, colaborações e aportes), Carazolli cita outros ensinamentos. “Temos aprendido a ser muito mais abertos, entender que apesar de termos pessoas que fazem projetos incríveis na empresa, também há oportunidades fora. E que quando juntamos essas forças, ficamos melhores do que individualmente.” De um lado, a ArcelorMittal tem os recursos e os processos bem estruturados. Do outro, as startups trazem mais velocidade, simplicidade e flexibilidade para se adaptar às mudanças.
“Trouxemos para dentro da empresa as metodologias ágeis, que é algo excepcional, assim como o conceito de MVP. Hoje é algo padrão na hora de pensar em projetos. As áreas estão mais confortáveis em falar sobre seus problemas e oportunidades, inclusive para buscar ajuda. A falha passou a ser compreendida como um processo de aprendizagem. Tudo isso são ensinamentos que adquirimos com as startups, aperfeiçoando o que fazemos sem jogar fora tudo o que já conquistamos”, conclui Carazolli.